Laboratórios farmacêuticos brasileiros vão tornar públicos em seus sites os pagamentos feitos a médicos e outros profissionais da saúde que prestam serviços, tais como palestras em eventos, consultorias e pesquisas.
A iniciativa, voluntária, é adotada hoje por pelo menos cinco laboratórios nos EUA e foi tomada após o Senado apresentar projeto de lei visando tornar mais transparente o relacionamento entre os médicos e a indústria.
A Eli Lilly foi a primeira multinacional a divulgar seu banco de dados americano e diz que discute com outras filiadas a melhor forma de implantar a medida no Brasil.
"Acreditamos que seja um caminho muito interessante para deixar abertas e transparentes todas as relações com profissionais de saúde", afirma Allan Finkel, diretor de assuntos corporativos da Eli Lilly no Brasil.
A Pfizer segue o mesmo caminho. "Estamos avaliando como implementar essa iniciativa levando em conta a legislação e as normas locais", informou a empresa em nota.
Entre junho e dezembro de 2009, a Pfizer listou US$ 35 milhões em pagamentos a 4.500 médicos e 250 organizações de pesquisa nos EUA.
Para o cardiologista Roberto D'Ávila, presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), a divulgação dos dados é fundamental.
"Não há por que esconder essa relação, a menos que ela seja ilícita. Não vejo nenhum mal no fato de a indústria pagar médicos para falar em seus congressos, mas tem que haver transparência."
D'Ávila defende que a indústria divulgue também outros patrocínios oferecidos a médicos que não são prestadores oficiais de serviços- mas que podem favorecer os laboratórios prescrevendo seus medicamentos.
"Eles vão divulgar a passagem, a hospedagem, os jantares que pagam a médicos a troco de uma pretensa educação continuada?", questiona D'Ávila. O CFM vetará esse tipo de patrocínio.
INVESTIGAÇÃO
Nos EUA, o banco de dados divulgado por alguns laboratórios foi usado em investigações sobre o marketing ilegal de remédios.
As investigações revelaram, por exemplo, que alguns médicos de renomadas escolas de medicina não têm declarado às suas instituições os milhões de dólares que recebem da indústria farmacêutica - a despeito de regras que os obrigam a fazê-lo.
A partir de 2013, a divulgação dos pagamentos a profissionais de saúde será obrigatória para todos os laboratórios por força de lei federal americana. Alguns Estados têm leis próprias sobre isso.
O movimento de maior transparência do setor também gerou novas oportunidades de negócios em saúde.
Um exemplo é o site PharmaShine, fundado por um advogado aposentado da Merck, que reúne bancos de dados de 250 laboratórios farmacêuticas e indústrias de dispositivos médicos.
Ele permite que o público tenha acesso a dados de 26 mil médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde americanos que recebem dinheiro da indústria por diferentes serviços prestados.
0 comentários:
Postar um comentário