Mesmo garantindo tratamento da Aids gratuito e universal desde meados dos anos 90, o Brasil tem cerca de 20% dos diagnósticos da doença feitos só depois que o paciente morre. A constatação é da pesquisadora Monica Malta, da Fiocruz, que analisou os 386.209 casos registrados no país entre 1998 e 2008 - no total, 141.004 pessoas morreram em decorrência da doença. "Sem o diagnóstico, essas pessoas deixam de receber o tratamento que poderia fazer com que vivessem mais", diz. "Se a pessoa morreu sem saber que tinha HIV, pode ter tido comportamento de risco sem saber que poderia estar transmitindo a doença."
O estudo, apresentado na 18ª Conferência Internacional de Aids, em julho, é o primeiro com informações nacionais, com base em quatro bancos de dados do governo.
Foram analisados todos os casos confirmados da doença, e não aqueles em que havia apenas infecção pelo HIV --em muitos casos, a pessoa tem o vírus, mas ainda não desenvolveu a Aids.
EXAMES - A análise revelou que 57,8% dos doentes não fizeram exame de carga viral e 48,6% não fizeram exame de CD4 naqueles dez anos. Quando se consideram só os usuários de drogas injetáveis, as porcentagens são ainda maiores. Os exames são importantes para a definição do medicamento e para o monitoramento de sua eficácia. Recomenda-se que cada um seja feito três vezes ao ano. Isso pode significar que essas pessoas não estão se tratando de maneira adequada ou, simplesmente, que não estão se tratando. Ronaldo Hallal, assessor técnico do Ministério da Saúde, diz que uma possível explicação é o fato de parte dos doentes realizarem esses exames na rede privada. No país, 75% da população não tem plano de saúde e depende do SUS. O ministério afirma ainda que uma parcela --sem dizer o número-- só descobre a doença quando já está perto da morte, sem tempo para fazer os exames --geralmente os mais pobres e os usuários de drogas injetáveis. Sobre os 20% que morreram sem o diagnóstico, o ministério disse que não comentaria pelo fato de a pesquisa não ter sido publicada. DOENÇA OPORTUNISTA - O educador social baiano Fabio Correia, 44, quase morreu sem saber que tinha a doença. Em 2000, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) decorrente da Aids. Passou semanas hospitalizado. "Não tinha me passado pela cabeça que eu poderia ter Aids. Nunca havia cogitado fazer o exame de HIV", diz. O coordenador da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, Veriano Terto Júnior, aponta problemas. "A oferta e o acolhimento nos serviços de saúde são precários", diz. "E, por mais que seja garantido o sigilo, algumas pessoas ficam com medo da exposição. DENISE MENCHEN RICARDO WESTIN
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