Brasília – Em 2014, o
Orçamento da União reservou pouco mais de R$ 1,208 bilhão para as ações
relacionadas ao enfrentamento da Aids e de outras doenças sexualmente
transmissíveis (DSTs). Mas, até o momento, apenas 29,6% do dinheiro foi
efetivamente gasto, já considerando os restos a pagar de anos anteriores
liberados em 2014. Do total disponível, a maior parte, cerca de 64,5%, está
destinada à aquisição e distribuição de antirretrovirais e outros medicamentos
destinados aos portadores da doença. Enquanto isso, as ações de prevenção,
vigilância e controle do HIV/AIDS nos estados dispõem de R$ 178 milhões, dos
quais apenas R$ 33 milhões foram efetivamente pagos até o momento. Vale lembrar
que, como o ano ainda não acabou, os números tendem a evoluir. Os dados foram
levantados pela reportagem e pela organização não governamental Contas Abertas,
a partir do portal de informações orçamentárias Siga Brasil, e tomam como base
a data de ontem.
Os Vulneráveis continuam vulneráveis
O recente relatório da Unaids, a agência da ONU para a Aids,
trazia uma boa e uma má notícia. A boa era que os casos de Aids reduziram 27,5% no mundo desde 2005.
A má era que no Brasil haviam aumentado 11%, algo que alarmou uma sociedade que
já via a epidemia distante e mais própria dos anos 1990 que de 2014. O
Ministério da Saúde, em nota, atribuiu o incremento nas estatísticas a uma
epidemia concentrada em grupos específicos, como transexuais, usuários de
drogas, profissionais do sexo e gays e, ao mesmo tempo, argumenta que a
testagem foi ampliada em 32% e que 353.000 pessoas estão em tratamento, o que
poderia explicar o aumento de 11%. O infectologista Jean Gorinchteyn, do
hospital Emílio Ribas de São Paulo, acrescenta que desde setembro de 2013 a
notificação de novos casos às autoridades se tornou obrigatória antes mesmo de
que o infectado inicie o tratamento, tanto para a rede pública quanto para a
privada. E essa parcela também está representada nessa taxa. Explicações e
justificativas à parte, os dados da ONU evidenciam que a capacidade de conter a
epidemia no Brasil está totalmente paralisada.