Foi no laboratório do
cientista brasileiro Michel Nussenzweig, na Universidade Rockefeller, em Nova
York, que um grupo de pesquisadores reproduziu um anticorpo com capacidade de
neutralizar tanto o vírus HIV quanto o seu receptor nas células humanas. Os resultados
foram comemorados pela comunidade científica porque os pacientes testados
tiveram a carga do vírus reduzida a níveis classificados como baixíssimos. O anticorpo, apelidado de
3BNC117, foi criado pelo próprio sistema imunológico de um paciente infectado,
mas que não desenvolveu o HIV. Os cientistas isolaram o anticorpo, clonaram em
laboratório e testaram em 17 soropositivos e 12 soronegativos.
A pesquisadora brasileira
Marina Caskey lidera o grupo que trabalha no estudo. Os cientistas ministraram
uma dose do anticorpo nos 29 pacientes. Em uma semana, o nível do vírus chegou
a cair 99%, mas o efeito durou pouco tempo. Ainda assim, o resultado não
desmotivou os pesquisadores. Outros estudos com anticorpos, disse Marina, não
conseguiram mostrar uma atividade significante em pessoas com HIV. Esta é a
primeira com resultados tão positivos.
– A pesquisa representa o
potencial que uma nova classe de medicamentos tem contra o HIV – afirmou a
responsável pela pesquisa.
O grupo da Universidade
Rockefeller crê que, assim como demais antirretrovirais, o 3BNC117 terá de ser
combinado com outros anticorpos ou drogas para manter a doença sob controle.
Isso porque o corpo pode construir estratégias de resistência quando é
submetido a tratamento por um longo período. O infectologista do Hospital de
Clínicas, Eduardo Sprinz, salienta que hoje as pessoas infectadas precisam
tomar os medicamentos antirretrovirais todos os dias:
– Cerca de 500 anticorpos
foram analisados individualmente. Esse que se mostrou positivo foi clonado e
testado. Uma combinação com outros dois ou três, em fases futuras do estudo,
podem se mostrar ainda mais eficazes. Da forma como esse anticorpo atuou,
podemos dizer que, no futuro, se vir a ser aprovado como medicamento, em vez de
tomar todos os dias o remédio, a pessoa infectada poderá ter de tomar uma vez
por semana ou, ainda, uma vez por mês e ter resultados muito melhores do que as
medicações que estão disponíveis hoje.
Luta tem evoluído nos últimos
anos
Ainda em 2015, os
pesquisadores que trabalham nesta pesquisa pretendem entrar na segunda fase do
estudo. Mais pacientes estarão envolvidos e mais doses serão aplicadas para
testar se os anticorpos podem eliminar de vez o vírus. Há alguns anos,
Nussenzweig conseguiu prevenir ou reprimir a infecção em ratos e primatas
utilizando essa versão de anticorpos considerados mais potentes. Mas, segundo o
professor, apenas o teste com humanos pode mostrar o avanço do estudo e apontar
para uma possível cura da Aids. A primeira fase foi comemorada por ser a
primeira vez que a nova geração de anticorpos anti-HIV foi testada em humanos.
No ano passado, outro feito na
luta contra a aids foi divulgado: os primeiros testes realizados com uma
possível vacina contra o HIV, desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP),
apresentaram resultados melhores do que os pesquisadores esperavam. Alguns
primatas submetidos ao medicamento tiveram resposta imunológica até 10 vezes
mais intensa do que a registrada em camundongos, em estudos anteriores. Em
2013, médicos do Centro Médico da Universidade do Mississipi anunciaram o
primeiro caso de cura funcional de um bebê infectado pela mãe durante a
gravidez.
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